domingo, 11 de abril de 2010

o anjo recortando asas (ou o voo frenético revelado)




acorda e nem se levanta
com o sol a bater na cara
encoberto início da lenta

manhã

nuvens baixas de rasante
nevoeiro entre as cortinas

a corda esticada até
um violino cansado

e todas as ruas ali
repercutindo perfis
pessoas e o mundo

ali mesmo o dever
a necessidade e o
porvir displicente

despertar dos olhos
caos de quântico azul

alinhar a ponta solta
e existir inteiramente


génese sem algum tipo
de mutação inverosímil

indesejada a imprevisibilidade
quando respira tão brevemente

e mais ainda suspirando

em tiras espessas de tempos
inúteis alagados suores e

afrodisíacas transpirações
a pedido de lágrimas sem

nome

uma excitação inesperada
nomeando noites do seu

extenso caudal que se atrasa
ao redor das veias pulsando

o corpo todo

talvez ao escapar uma
iluminação sorridente

estranhando porém
o desenlace levado a
cabo trazido de dentro

guardando tudo
lembrando cada
coisa

porque

todos os espelhos são
um a um nenhum

retrato

memória nenhuma
irreversíveis vozes

o tempo sempre passa
como um passatempo

hábito diluente
recado invulgar

às vezes

é aquele tiro dado no escuro
sem se conhecer onde pára

desferindo o humano golpe
antes de cair sobre a água



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