levar a cabo um ideal. podia
ser esta uma das definições de esperança. dos que crêem e dos que vão à missa e
têm talismãs. dos que já não acreditam, mesmo sendo optimistas em relação a
algo maior do que cada um, tendo ou não uma espiritualidade ou até dos que
nunca chegarão a acreditar, por mero pessimismo, cansaço ou letargia. levar a
cabo o sonho. nas fraquezas que todos temos, nos sinuosos caminhos da mente que
nos pretendem enganar ao esquivar da verdade, e nas incertezas cheias de
contradições que num ou outro momento são a essência a apontar-nos ao
essencial. mas baralhadas as cartas, e volta tudo a dar à raiz, à génese com
que emergimos. nada é o mesmo e pouco é
necessariamente igual aquilo que foi. porque ainda há a esperança. e é
precisamente sobre ela, a esperança, que me devoto sobre ti. sobre o teu âmago
numa linha muito marcada, de devoções aprendizes e medos denominados. sobre o
teu ser mulher, desassossegada mas completa, reactiva e também indefesa, nobre
e sã de bondade, e sobre ti volto a colocar a estaca no meu peito firmado de
fundura e compassos de utopia que vão redesenhando dia a dia a paisagem extensa
e benigna de um só. e sobre ela, as esperanças geminadas, o teu tacto rigoroso
nas diligências da exactidão e do prevalecente. e sobre mim as melhorias dia a
dia, numa aprendizagem indomável de que vale a pena ser esta coisa que tu dizes
que sou. seja na troca fluida desse corpo no meu corpo, o teu cisne branco recém-nascido
com as velas ainda coladas à pele em membrana de aguarela. seja na tua fonte contorcida
de águas límpidas de tantos lagos de outros tantos mares. e eu, sem te
apressar, recebendo-o no meu colo em chamas até ao raiar primeiro do primeiro
olhar em aberto, rectilíneo, assim que se sente preparado para comigo ficar
frente a frente. seja olhos nos olhos, seja cara a cara. a raridade faz o
mundo, o amor faz a extravagância do cisne negro em singularidade. faz ronha
com as promessas matinais, faz o sono sem bocejo. seja no estremecimento que
nos acredita, seja no acreditar em nós, por emulação. porque a esperança, outra
vez, advém da espera. e a espera também se faz em movimento. é uma quietude irrequieta
e febril e também acontece em segredo. quando duas crianças brincam, inocentes
e inesgotáveis. na esperança, de cada uma, a inocência é pura. a ignorância
também. esta última, com menos sabedoria. porque a esperança é só o conhecimento
proveniente de algumas solidões, do gato de oficina deitado na sua insónia numa
obsessão destinada a ser a cura de todos os males. o gato que não dorme
enquanto não souber que pode, enfim, descansar. as crianças brincam, o gato não
se recolhe, é fiel com as suas garras afiadas rasgando o insuportável clamor da
partida e o susto da vida eterna durante as suas sete vidas de um místico
encanto. e, todavia, a necessidade de implosão de todos os seus órgãos vitais,
isto, numa tentativa de não salvamento, mas de resgate de si mesmo. as crianças
retomam a brincadeira durante noites assim, que duram muitas madrugadas. até
que o gato esteja pronto e ao dar o salto, concretize a excelência do retorno
com o pano de fundo de um poço que vem logo atrás. no teu gato, comigo tu és.
nas crianças que adormecem, eu penso ao lado da eternidade. e a esperança enrola-se
como nostalgia tão boa de saudade quanto uma camisola às riscas ou um andamento
cor de laranja, azulão. e agora? é já
depois. o idílico. a galope de um céu, acima e abaixo, de ver para crer. de (e)levar.
sábado, 25 de agosto de 2012
sábado, 4 de agosto de 2012
a força e a insegurança (parte II)
esta história começa, longínqua e
distante, num país chuvoso. numa geografia latente em cristalino e largos lagos
de um azul a pender para noites de blues e dias mornos. quando ela aprendia,
ainda, por linhas tortas a escrever a direito, legítima e esforçada no seu dever
de missão perante um mundo de mulheres e de homens. haviam rodopios e avanços,
recuos e territórios movediços. havia a visita do espelho e o espelho em vista.
chegava a olhar-se exterior a si, como quem entra num espaço onde já esteve mas
que por circunstância ou inclinação para o abismo entre si e a sua outra, era
apenas o método de chegar mais dentro, beiral onde desmascarada e autêntica se
(re)conhecia. e o tempo há muito que era uma partida desigual com relógios a
fazer de tiquetaque. desde pequena que gostava de brincar à apanhada e às
escondidas, e cedo soube jogar ambos com o conhecimento das regras, ao ataque e
à defesa consoante a oposição. chegada a si, olhando-se e escavando até ao
olhar mais fundo, aprendendo igualmente que num primeiro passo poderia estar o
passo seguinte. fora sempre assim, sob o território seu que dominava e a zona
de conforto que não partilhava com ninguém. mas um dia, o jogo da apanhada
originou uma outra correria, um valsa mais lenta. e a brincadeira das
escondidas surgiu-lhe seriamente com contornos de pele tocada e a exposição dum
coração com sons de dança como parceiro ideal. muito antes disso acontecer, a
rotina era o prelúdio de um soneto cantado a solo. e só depois disso acontecer
é que se lhe afigurou a possibilidade remota de duas vozes num coro em voz de
igualdade. foi num dia, em que bela e inteligente, se deixou recordar que
também existia. e que as velhas cantilenas cor de rosa regressavam de tão longo
período de alienação. esta história recomeça aqui, vestida de um casaco negro e
calças compridas e azuis a pender para uma noite de tango e dias inflamáveis. quando
reaprendeu, nesse dia, a ser mais próxima de si e ao invés de fazer e dar por
tudo e por todos, retomar a dádiva para consigo. nem sempre é fácil. mas nada
se resume só a difíceis dissoluções. tem momentos de uma sonolência abrupta e
outros de uma frieza tonta. instantes de instintos rápidos e outros de uma
brancura imaculada. em que por todos os melhores panos com a pior nódoa é capaz
de segurar na concha genuína de se abrir e de guardar, a pedra preciosa que
tanto lhe forjaram, muito antes disso acontecer, a encontrar. veja-se: agachada
com as pernas cruzadas numa postura de atenção incondicional, escuta e ouve,
questiona e argumenta, protege-se na vontade do sim ao desafiar o não em lutas
constantes e imprevisíveis. que nada têm que ver com o feitio, que pouco a ver
têm com defeito. Ela, já depois desse dia, aproximou-se dele. e quieta
disse-lhe caramba, tu sabes realmente o que quero e ele, como que os envolvendo num lençol macio
de um arquétipo primaveril e dilatando os lábios em curva ascendente respondeu:
sim. sem sair, nunca, de ti. esta história continua aqui. quando o certeiro é o
correcto, quando o certo é não ter absolutamente nada de errado. felizes, sabem-se. nesta história que começa...
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