sábado, 4 de agosto de 2012

a força e a insegurança (parte II)




esta história começa, longínqua e distante, num país chuvoso. numa geografia latente em cristalino e largos lagos de um azul a pender para noites de blues e dias mornos. quando ela aprendia, ainda, por linhas tortas a escrever a direito, legítima e esforçada no seu dever de missão perante um mundo de mulheres e de homens. haviam rodopios e avanços, recuos e territórios movediços. havia a visita do espelho e o espelho em vista. chegava a olhar-se exterior a si, como quem entra num espaço onde já esteve mas que por circunstância ou inclinação para o abismo entre si e a sua outra, era apenas o método de chegar mais dentro, beiral onde desmascarada e autêntica se (re)conhecia. e o tempo há muito que era uma partida desigual com relógios a fazer de tiquetaque. desde pequena que gostava de brincar à apanhada e às escondidas, e cedo soube jogar ambos com o conhecimento das regras, ao ataque e à defesa consoante a oposição. chegada a si, olhando-se e escavando até ao olhar mais fundo, aprendendo igualmente que num primeiro passo poderia estar o passo seguinte. fora sempre assim, sob o território seu que dominava e a zona de conforto que não partilhava com ninguém. mas um dia, o jogo da apanhada originou uma outra correria, um valsa mais lenta. e a brincadeira das escondidas surgiu-lhe seriamente com contornos de pele tocada e a exposição dum coração com sons de dança como parceiro ideal. muito antes disso acontecer, a rotina era o prelúdio de um soneto cantado a solo. e só depois disso acontecer é que se lhe afigurou a possibilidade remota de duas vozes num coro em voz de igualdade. foi num dia, em que bela e inteligente, se deixou recordar que também existia. e que as velhas cantilenas cor de rosa regressavam de tão longo período de alienação. esta história recomeça aqui, vestida de um casaco negro e calças compridas e azuis a pender para uma noite de tango e dias inflamáveis. quando reaprendeu, nesse dia, a ser mais próxima de si e ao invés de fazer e dar por tudo e por todos, retomar a dádiva para consigo. nem sempre é fácil. mas nada se resume só a difíceis dissoluções. tem momentos de uma sonolência abrupta e outros de uma frieza tonta. instantes de instintos rápidos e outros de uma brancura imaculada. em que por todos os melhores panos com a pior nódoa é capaz de segurar na concha genuína de se abrir e de guardar, a pedra preciosa que tanto lhe forjaram, muito antes disso acontecer, a encontrar. veja-se: agachada com as pernas cruzadas numa postura de atenção incondicional, escuta e ouve, questiona e argumenta, protege-se na vontade do sim ao desafiar o não em lutas constantes e imprevisíveis. que nada têm que ver com o feitio, que pouco a ver têm com defeito. Ela, já depois desse dia, aproximou-se dele. e quieta disse-lhe  caramba,  tu sabes realmente o que quero  e ele, como que os envolvendo num lençol macio de um arquétipo primaveril e dilatando os lábios em curva ascendente respondeu: sim. sem sair, nunca, de ti. esta história continua aqui. quando o certeiro é o correcto, quando o certo é não ter absolutamente nada de errado. felizes, sabem-se. nesta história que começa...

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