um
instante, um momento, um segundo. quando tudo acontece nesse curto espaço de
tempo e a única coisa que se conhece é a duração de uma saudade, de uma falta
ou de um súbita sensação que se desenrola em outras infindas manifestações que
provêm desse terço de tempo que não se possui. é no tempo que vai que sobejamos
o quanto esse tempo nos aproxima. que desejamos não nos afastar, que mantemos
os braços na posição de abraço e as mãos pairam no ar vago da espera. é a
persistência desse véu que nos cobre, que nos despe e nos destapa, primeiro tu
só depois eu. e tantas vezes sou eu o último a ver a tua pele indefesa, cheia
de pontinhos e de claridade. um segundo, um momento, um instante. no tempo a
ficar-te na face logo quando acordas ainda o amanhecer é um hóspede a chegar da
noite. carregado de aditivos e somas estreitas, entre a horizontalidade em que
o corpo que escolheste repousa e enquanto tu verticalizas o olhar e o silêncio.
as respirações fundem-se para se confundir e os números no despertador avançam
ao de leve consoante as incontidas carícias que resultam num despertar sem
tempestades. longe vão os dias de temporais, as tardes bucólicas no amorfo
sentido da vida ou até mesmo, as rotinas forjando o tédio e os fins sempre
iguais. mas o tempo adianta-se e ao repararmos nele não se sabe bem quanto foi
que passou, a matemática troca-nos a intuição e o que parece ser, já o é em
continuidade sem limitações. o anjo liberta-se para se atar. vagarosamente, um punhado
de vespertinas locuções maneja as bocas unidas, os lábios formulam as certezas
habitadas no ocaso do quotidiano e o novelo estende-se até à proximidade mais
justa e mais certeira. ateiam-se as fagulhas inerentes à vulnerabilidade
perante quem se quer, acima de tudo, se deseja como quem agradece. louva e
honra os nós desatados da insegurança. num instante, somos dois, num momento
tomamos um do outro, segundo a segundo, a palavra a vanidade ou o mel destilado
no espírito. e muito maior que o esperado, és de criar doçura tal qual as romãs.
em raiz, nidificam-te no modo como vives. no verdadeiro e doce modo de me
viveres. a eternidade é deixar-te ser quem és, forte e nuance de espanto. comigo, enfim, dobrado sobre a vertigem de morar no único lugar do mundo, encantado, onde me permites ser deslumbrado. num abrir-te e fechar-me de olhos. aquieto-me, intemporal. e sei-te assim do anjo sem abandono.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
segunda-feira, 4 de junho de 2012
um, dois, um (ou a plenitude)
ela tem muitas dentro de si. ela é só uma, mas com
muito mais do que a aparência alta mistifica, em que se constitui. por vezes é
um espelho impecavelmente híbrido, seguro e vaporoso. os cabelos adornando a
face macia, a base na camada mais fina da pele, o rosto composto num nariz
particular. outras vezes, quando brevemente insegura tem um ar mais sério,
ainda que sedutora e tranquila no mesmo corpo e na mesma medida. ela veste-se
de tramas muito profundas, o fácil não a estimula e o que é comum não a faz vibrar.
é sim, o desafio que a move e lhe abre os ângulos que se abrem ao meio permitindo-a
abraçar-se com a sua própria sombra. ela é o seu sorrir. é o sorriso. cedo, na
presente estação, é encarada com a dedicação instruída por vê-la, ensina ao
olhar os olhos cálidos e numa demonstração de valor acrescentado, ela vale todas
as sete vidas que tem. e só a vida carece de ser somada numa vida inteira. porque
há algo nela, que não chega a ser ausência. habita no que sustém e no que
acolhe de peito aberto. convida a oração através das horas escuras de onde vem
a luz, e aperta com muita força a bonita cruz que mostra a essência de não
parecer deste mundo, nem mesmo quando sofre o que mais ninguém sofre. ela
retoca-se como quem cuida de uma imagem rara. diga-se, aquela que é captada com
lentes de cor. e depois corre para a rua numa pressa ritmada de confiança e
embalo. ela desdobra-se em ser um todo e em alcançar tudo.
e sorri, que nem uma criança. é o sorriso, ela é o sorriso. cedo, caminha pelos
seus pés repletos de exactidão. e sabe que nunca é tarde para agradecer. ao fim
do dia sabe também que só sabe voltar. do amor, consta que deixou-se tatuar numa
mão cheia de carícias que sabem a festa. ela, na solenidade fiel ao tacto e no véu
a descoberto do toque. em que de manhã é o sol. em que de noite é uma estrela. sempre
alta, sempre ao luar.
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