segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Em dó maior



Um mês. Depois. A escrita. Nos vazios. Maldita. A espaços. Nesta minha voz. Surda. O meu túmulo impróprio. De palavras guardadas. Que me fugiram. Pelas artérias plenas. Do silêncio. Da perenidade.

Serás tu mais vulnerável que a minha fragilidade?

Por essa cegueira. Das noites infinitas. Que me denunciaram espectros. De sílabas. Imóveis. De dentro. Muito internamente. Em cada uma das bocas. Fechadas. Numa súplica:

"Sinto a poesia a alastrar-se, lentíssima, para o vale onde se dirige. Só."

O afastamento. Que alimento através de ti. De mim. Para comigo e em todos vós. Para contigo. Em moldes concretos de uma efeméride. Uma promessa. A asfixia. E a vontade. A melancolia. Numa única linha. Quebrante. Invisível. E errante. Mais ainda. O fracasso. Mas. Devagar.

O envolvimento. Da manhã nebulosa. Com a neblina. Em circunferências. De vapor. De água. De um presságio. Um vestígio. Da noite cálida. E transparente. Antecedente. E ascendente. A absolvição da utopia. O requiem doloroso. Intervalo. À abstinência. Da realidade. Do real. Eu disse-lhe. À dor
:

Um dia, previ. Sonhei que batias à porta e eu calmamente te abriria a janela daquilo que guardo. Nos olhos que nunca viste. Nos rostos e nas máscaras de outros que jamais destapaste. Sinto-me arrefecida, dizias. As minhas mãos quentes num rasto de cinza sobre a roupa. Sob a pele. Com muito medo de te queimar. Tenho coragem. E não te hei nunca de incendiar. Mas prefiro que te extingas comigo do que desapareças sem mim.

Eram apenas previsões, que um dia imaginei. Dormente de alma e entorpecido nas palavras que o sono denunciava. Perdoa-me, mas não sou capaz de deixar de escrever mesmo deitado à tua espera. Que não vens porque te deixas esgotar noutra madrugada. Não sei se chovia no teu peito ou se irradiavas sol nas tuas afeições, que não sei descrever-te de outra forma.

Tanto que o meu sonho era um feixe de luz que me encadeara dessa vez. E no fundo, bastou um dia para te distinguir. Soube quem foste e quem eras, mais de resto não. Tudo transforma-se em nada, repetias - nesses suspiros de lua que deitavas fora. E muito raramente tos ouvi. Até porque enquanto sonhava, tu estavas longe. Tão longe que não poderás entender como respiras apressada à medida que as tuas lágrimas me encharcavam. Afogado e resgatado mais tarde, recordo. Primeiro tu, em primeiro lugar és tu quem quis em terra firme. Os braços e as pernas, depois o teu corpo na totalidade, estendido e sem se mexer. Sobrevivente. Porque fazias questão de ser forte. Porque te dizias forte. Sempre forte. E por o seres

a única fraqueza que te descobri está estampada na mágoa que trazes escondida
.

Na verdade. E agora? De hoje. Ouço as cordas do piano. Negras. Cheiros recentes. Marcas da vida. Sonatas ou solidões. Marcantes. Negras. Porque o passado. Fica? Voa. Livremente. Preso nas asas de um pássaro evidente. Límpido o traçar presente. Da sua vaga de penas. E de asas. De um costume. Num único abandono.

A revelação incerta da lamentação. Sem a menor dúvida. É uma melodia.

Em que habito. E me detenho. Com os pulmões abertos. Pelo ar. Por amor. E por mar.