terça-feira, 13 de abril de 2010

a meio caminho (ou o ser nunca inabitado)



havia a rapariga que tapava os ouvidos enquanto caminhava. a direito, sempre tão amarrada aos pés, o peso dos ossos na vulnerabilidade da pele, hermética numa distância de sinfonia na sempre igual variação. saía pela porta. o vento a dançar à margem dos auscultadores. as chaves na mala e braços caídos. a direito, ao longo do imenso passeio. não chovia. nuvens depois, começa a chover. uma chuva miudinha. e a rapariga com os ouvidos tapados não ouviria se por ela chamassem. porque também o seu nome não se pode chamar. não há quem o diga. ela continua. e assim foi. segue. e é assim ultimamente. assim será. passo a passo. e quando não houver quem a veja é porque a rapariga no afastamento dos outros, sem direcções sequer, se aproxima cada vez mais do seu pautado regresso. na cadência do caminho. passo a passo. ao som de um blues que o deixou de ser num dia mais ou menos normal. e nenhuma voz. sílaba ou paradeiro nem identidade. vem. até mesmo que não haja hipótese de voltar atrás. deixa de chover. e dela não há sinal.



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