sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

a rapariga (ou a boneca de corda, às vezes)



ela está sentada à beira da cama. a espreitar através das cortinas a natureza das coisas que estão fora dela. porque é fora de si que se concentra no que tem dentro de si mesma. parece confuso, tem alturas que sim e outras que nem tanto. hoje é uma dessas raras alturas, hoje é dos hiatos mais tranquilos de ultimamente. sentou-se à beira da cama e pôs um discos dos antigos para escutar de uma ponta à outra. qual a subtileza disso? ouvir as horas mas longe do tempo.

quem a conhece, diz que é capaz de "olhar para o boneco" de manhã `noite. porque tem recaídas, mas que mesmo assim nunca desiste. para quem a conhece, ela brilha na invenção dos espaços. hoje está em paz, serena. ou pelo menos, a parte dela que deu tréguas à outra

- a que termina quase sempre os dias sob o peso [leve pluma] daquilo que pressente em tocar, do que teima em olhar e do que até secretamente pensa sem contar a ninguém. o cansaço e a fadiga são quase sempre precedidos de uma oração: da coragem, um dia, farás a valentia. e então, viverás sem peso nenhum, sem muros no teu jardim onde morreram girassóis e semeaste árvores de fruto na infância. coragem. já podes, então, ver onde o oceano se enamora do mar. hoje, sentada à beira da cama, encara-se incalculável. minutos antes da música terminar.

ao fundo, aquelas palavras dão-lhe sentido e alento. repete-as uma vez mais, e nisto - já sem música - percebe através das cortinas que o céu está azul. com ondas azuis.

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