segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

amanhecer (ou um relato de intimidade)



ameno é o dia, que começa com aqueles tons que parecem saídos da mais vistosa fantasia. de que somos capazes. e de que somos órfãos também. uma brisa suave corre no ar, as aves da manhã passam sucessivamente junto à janela. e à mínima alteração de luz, tudo parece uma explosão de cores intransmissíveis. ameno é o dia. e ela levantou-se cedo como habitualmente. o vento passa-lhe suave e dócil pela janela. e a brisa é doce, naquele momento de entusiasmo. quase lânguido quase ao extremo. ela contempla a cidade com os seus olhos grandes, com o seu rosto franzino. com a sua pele claríssima. com a curiosidade que desenvolveu com os anos. ela é de ferro e de porcelana, em simultâneo. lembrou-se naquela manhã amena, de tantas coisas. riu e chorou, vestiu-se com a primeira coisa que levou às mãos e sentiu uma enorme necessidade de. nada é dispensável. retocou brevemente os lábios e escondeu a sua feição mais triste. perguntam-lhe muitas vezes se é feliz, se está bem. mas o seu segredo é sorrir para os solitários e sorrir mais ainda para os que não lhe são estranhos. quase nunca tem resposta para esse tipo de perguntas. porque também ela amenizou as palavras e o que diz. mas porque nem sempre isso lhe apetece. foi do que se lembrou. e no meio de tantas coisas que lhe vieram à cabeça - nos seus grandes olhos no seu rosto franzino na sua pele de anjo sem deuses – deixou-se levar pela brisa, invadiu-se de generosa bondade e tornou assim mais fascinante o dia ameno, fazendo assim das lembranças um benigno corpo presente.

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