Os dias demoram ao longe. Lentamente.
Sentado, espero o amanhecer no solstício
que adiará a treva. O lado obscuro da sombra
no teu rosto e no meu, a penumbra das faces
lado a lado enquanto adormeces.
Queria fechar-me, suster a respiração e dormir
um momento que fosse, calar-me de dentro e por dentro
pairando no ar como um pensamento opaco e discreto.
Voar, quem sabe, para perto do sul, hasteando no cais
a vida pintada de fresco e o coração devolvido pela corrente.
Queria alojar-me nas marcas que ficam – e do que resta,
perder-me para sempre no interior da névoa sem sobressaltos.
Mas a luz imensa dos corpos é um sono contido
que atravesso ao abandono, por palavras.
Vejo-te para além da vigília e sei que
tens o medo guardado no espírito. Já eu
tenho o medo do tempo. O tempo que já não existe.
O tempo que fui antes de ser muito só. Antes e depois de ti.
Dantes, imaginava a noite por detrás de um espelho
muito lúcido – tinha nos seus contornos umas linhas
de azul e branco e lilás. Ou lilás, e branco e azul.
Agora, nada senão umas manchas de negro nos olhos
pingando poentes de saudade e de tristeza. Ao ocaso.
«só poderei estar junto a ti se me levares contigo»
– O peso do que sinto mede-se, agora, pelo que calo.
Por dentro e de dentro, asfixio estas palavras em silêncio.
Dormes à distância – e não te dás conta
do reflexo que há durante o segredo
em que me aproximo. Aos teus ouvidos
sussurro-te: «quero que te sintas em paz».
Pouso a cabeça entre os teus cabelos
e, vou girando vagarosamente a chave
nas portas que não serei capaz de fechar
contando todos os grãos de areia, um a um.
1 comentário:
... ás vezes, muitas vezes, o silêncio não é a ausência de tudo, mas sim a presença de um nada, e como é bom, assim, contemplá-lo, frente a frente!
De cabelos ao vento, daqui deste deserto
Um beijo em silêncio
tee
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