quinta-feira, 4 de junho de 2009

À manhã






Hoje queremos voltar amanhã,
sentir como quem rasga
e pertencer como quem fica.

Hoje queremos amanhã ser a madrugada,
inclinar a lua escurecendo a alba
e transbordar o fulgor que resta.

«um dia houve nesse longo caminho»


Hoje sabemos que amanhã
é impossível reverter a água
e recorrer à terra que nos ficou.

Hoje deitamos fora os sinais,
cuspimos todos os verbos passados
e conjugamos amanhã o futuro
em nome dum tempo mais justo.

«um dia haverá que passaremos lado a lado»


Hoje fecharemos todos os sentidos,
com a certeza de quem se confunde
que o mundo amanhã não é a preto e branco.

Hoje fugiremos para lá da imensidão,
amanhã saboreando sonhos intemporais
como quem nasce uma outra vez.

Hoje ficaremos a conhecer o lado indistinto
do espelho norte, como quem abdica do sul
e se ignora aos seus próprios olhos. Amanhã.

Hoje morreremos lentamente,
levando as marcas mais íntimas
do amor amanhã pecado e proibido.

Hoje, à manhã
eles viverão felizes.

Se para sempre for
mesmo que o não seja



será o que quererão guardar.


Quem sabe se «um dia, é»


Hoje. Ou amanhã.

1 comentário:

INDIE disse...

fico lisonjeada de saber que o meu espaço é visitado por um bom poeta.

adicionarei o teu e-mail, obrigada.

bjinhos