terça-feira, 2 de junho de 2009

Pulsação (arterial)





Indelével,
esse estado com que me pairas
no alto da tua solidão.

És um arremesso intempestivo

e seguro, estranhamente cândido
assim que o mar se afasta à tua porta.

Ouve-lo chamar-te nas noites
húmidas da tua insónia e não
fazes caso do que possa exprimir.
Há muito que esqueceste o que
uma onda era capaz de te fazer.

Antes preferias areia e sal,
agora consomes todo esse
acerbo da cabeça aos pés.

E tens marcado nas membranas
os indícios de uma viagem que
sempre desejaste, mas
que por uma razão secreta
abdicaste sempre, à última hora.


Ficas à espera.

E tantas marés partiram
e outras tantas que chegaram,
e tu esperando
como se fosse a próxima
o motivo da tua embarcação.

Enganaste-te.

Já não poderei contar quantas
foram as que queimaram a ponta

dos dedos nas velas içadas,
nem as que abriram a alma ao meio.

Quantos náufragos pressentiste,
quantos sonhos moribundos viste
ou quantas promessas socorreste
à tona de água, quase quase
inconscientes.


Há muito que também te
demoli o motivo porque
te esbatias contra as ondas,
no meio da espuma e no fim
espelhavas o fundo do oceano
que pensavas nunca desaparecer.


Enganei-me.


Um tempo depois,
já mais adulto
sentiste que o azul translúcido

se tornara negros olhos

e que não serias ousado o suficiente
para os encarar de frente.

A tua fraqueza,
foi uma duna de serpenteado
fogo e névoa.


Imaginado a colisão de ambos,
que restaria de sonhos inférteis e
esterilizados que criaras
na tua juventude?

Pouco, muito pouco
ou tanto que não me recordo -
depois de tudo.


És uma ferida móvel,
constante e circular.

Somos o velho que amacia
as tempestades vadias
com um olhar um pouco mais denso
e mais profundo que os rios -


mas que desaguando no mar
cambaleia como uma
corrente transversal,
cheia de reminiscências e ocre

talvez por isso,
rasgando cartas até ao princípio
dos dias e noites finais
em que as palavras se espalhem
líquidas e tangíveis
para a viagem impossível
ou o regresso imaginável.

Indelével,
ritmo cardíaco no interior do corpo.


Stones and flowers on the ground
We are lost and found, until.

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