segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Na vez dessa palavra que não digo




Lá fora, a rua vai-se encolhendo para as margens do passeio. Invadindo-se de riscas desenhadas no alcatrão e luzes verdes amarelas e vermelhas, sucessivamente.


Há quem avance - e não poderá regressar. Há quem abrande os passos - na incerteza de ainda. Há quem pare, finalmente - porque o tempo acabou. De todos, o que mais me comove são os olhares reluzentes, intermédios que muito pausadamente se vão fechando. E há nas suas pálpebras uma emoção que poucos compreenderão.


Lisboa arrefece. No céu de Lisboa, as estrelas escondem-se de quem as procura. Iludem quem as pensa observar - brilham continuamente, e enganam o olho a nú da palpitante visão. Está frio, minuto atrás de minuto. E é neste Inverno de silêncio que Lisboa se prepara para partir. Sem nada que a impeça de


Tudo o que deixar para trás, será brancura. A música e as lareiras acesas. Serão faíscas brancas roubadas ao fogo.


Em volta, os jardins escurecem-se de folhas húmidas e de troncos repartidos. Sonhos, desejos - a esperança infinda. Raízes que se dobram na Terra, contorcendo as palavras juntamente com a poeira


[ a poesia ]


o húmus terrestre de ambições e ansiedades que pouco a pouco vão escavando a sua morada.


A lua atinge branca a superfície com um só esvaecimento. Em Lisboa mantém-se o gelo. A geada e o granizo acordando em sobressalto nos telhados, repentinamente. O murmúrio desliza estreito na sua face. As rugas tomam forma de rios e os vales montanhas - na transição dos ponteiros para o norte - são um abatimento de diásporas e tempo em que o tempo parava - em que o tempo resistia e tudo era esse tempo (im)possível.


Cada vez mais - na hora.


Outrora no sul. Cores e cinzas, nuvens cinzentas de água transparente. Exuberantes as imagens que a antecipação e a alva, rebobinam e mostram Lisboa


de pé, quase paciente na sua - sempre - última cerimónia


[ na vez dessa palavra indizível


adeus ] que não digo:


o meu rumor de braços e mãos, de corpo que é o que sobrevive agarrado à ponta da cortina que cai. Coberta e cheia de Amor. Atrasando os relógios para o reinício o começo da odisseia. Hoje e sempre.

Lá fora, na rua, Lisboa é o presságio, a metamorfose. Branca, carinho cidade, réplica de regressada ternura friamente quente.

A quantos estaremos, amanhã depois desta noite?

[ tic tac ]

4 comentários:

il _messaggero disse...

poeta...

um grande 2008!!!

abraço

Anónimo disse...

Ja nada me espanta vindo de um talento como o teu...Acho cada vez mais que mereces mais que um simples blogue! O mundo lirico espera-te.
Parabens pelo talento!

Um grande abraço amigo

Ruben

rita disse...

Surpreendex-me tenx talento para ixto!!!!



Um grande abraço da tua pima


Rita

Unknown disse...

um abraço, por entre ruelas de LX.

um enorme 2008. sempre melhor q os ultimos anos!

e enquanto Lisboa se muta em mudanças infinitas q se perfilam ao nosso olhar... tb as nossas vidas se mutam em sim mesmas.. espero mmo q seja sempre para melhor...

tem de haver paz dentro de nos proprios, ja chega de turbilhoes