domingo, 2 de dezembro de 2007

Mais de ti que do(eu)


Separados no tempo, como duas cicatrizes demoradas, em linha recta tombavam os olhos entre si.

«Curvada sobre a vergonha expunhas a tua altivez demonstrada através de mentiras que eram palavras não tuas. Nunca tuas, essas que não se escreviam nos teus olhos afogados nem na tua cabeça oscilante, muito menos no teu pensar palavras as que da tua boca me mentias. Embora triste.»

- Porque não aceitas a verdade?

«Porque há um adeus adiado em cada signo. A cada ferida uma angústia lenta. Palavras são que não concilio comigo. Nem na tua presença. Porque atinges-me no silêncio e no pesar de te dizer uma mentira que seja.»

- A verdade? Mas o que será que isso foi?

«Perto do abismo caio sempre da mesma forma como se me empurrasses, desamparado, para o interior do mundo. Mundo - palavra que desmente o carácter do que antes se perfilava nos canais do justo engano de te ter dito Amor.»

Na distância, conheciam-se há muito.

«Redescubro-te. E encubro-te. E hei de te guardar inevitavelmente dentro do peito, em jeito de fenda que se abrirá quando te chorar ao adormecer.»

Mormente, alimentavam o fosso e o peso dos corpos com a violência de quem se perdera.

O reencontro?

«Sou todos os dias em que me ignoras. Em que és uma distância intocável. A cortina e o pano, corridos, um vácuo de esperança que avança penitente em cada um de nós.»

Retoma-se a incerteza: O reencontro? Ao recontro entre si:

«És a minha hesitação. O meu lado escuro do luto. Sem medo porque só me atormenta esquecer-te. Não sei se alguma vez haverá um fim (se final existe) – somente uma luz que treme e se despe de longe.»

Dá-se uma volta na invocação do espaço. Batem-se os pulsos na rotação do próprio movimento. E a face de um entorpece a sua mesma figura.

«Sonho e pesadelo. É o nosso paradigma. Preferia desconhecer o rigor dos nossos trajes. Das coisas que aprendemos. Da exactidão e da extrema força que absorvíamos juntos. Enfraqueceste-me. Quebrei-te. Eu sei…»

«Tenho em mim a invisibilidade do teu eclipse. A absolvição de todos os teus erros. Quero que saibas que sentir-te-ei contínua e transversalmente, no coração cerrado e na alma encerrada. Tu.»

Invasiva. A dor indolor alastrou-se e derramou-os. Em paz.

Sem comentários: