domingo, 6 de outubro de 2013

Os Ambivalentes





Reescrever. A escrita. Maldita. A espaços. Nesta voz. Surda. O meu túmulo impróprio. De palavras guardadas. Que me fugiram. Pelas artérias plenas. Do silêncio. Da perenidade. Será mais vulnerável do que a fragilidade?

Por essa cegueira. Das noites infinitas. Que denunciam espectros. De sílabas. Imóveis. De dentro. Muito internamente. Em cada uma das bocas. Fechadas. Numa súplica:


" Sinto a poesia a alastrar-se, lentíssima, para o vale onde se dirige. Só. "


O afastamento. Que se alimenta através e em todos vós. Para convosco. Em moldes concretos de uma efeméride. Uma promessa. A asfixia. E a vontade. A melancolia. Numa única linha. Quebrante. Invisível. E errante. Mais ainda. O fracasso. Mas. Devagar.


O envolvimento. Da manhã nebulosa. Com a neblina. Em circunferências. De vapor. De água. De um presságio. Um vestígio. Da noite cálida. E transparente. Antecedente. E ascendente. A absolvição da utopia. O requiem doloroso. Intervalo. À abstinência. Da realidade. Do real. Eco de dor:

Um dia, previ. Sonhei que batias à porta e eu calmamente te abriria a janela daquilo que guardo. Nos olhos que nunca viste. Nos rostos e nas máscaras de outros que jamais destapaste. Sinto-me arrefecida, dizias. As minhas mãos quentes num rasto de cinza sobre a roupa. Sob a pele. Com muito medo de te queimar. Tenho coragem. E não te hei nunca de incendiar. Mas prefiro que te extingas comigo do que desapareças sem mim. Eram apenas previsões, que um dia imaginei. Dormente de alma e entorpecido nas palavras que o sono denunciava. Perdoa-me, mas não sou capaz de deixar de escrever mesmo deitado à tua espera. Que não vens porque te deixas esgotar noutra madrugada. Não sei se chovia no teu peito ou se irradiavas sol nas tuas afeições, que não sei descrever-te de outra forma. Tanto que o meu sonho era um feixe de luz que me encadeara dessa vez. E no fundo, bastou um dia para te distinguir. Soube quem foste e quem eras, mais de resto não. Tudo transforma-se em nada, repetias - nesses suspiros de lua que deitavas fora. E muito raramente tos ouvi. Até porque enquanto sonhava, tu estavas longe. Tão longe que não poderás entender como respiras apressada à medida que as tuas lágrimas me encharcavam. Afogado e resgatado mais tarde, recordo. Primeiro tu, em primeiro lugar és tu quem quis em terra firme. Os braços e as pernas, depois o teu corpo na totalidade, estendido e sem se mexer. Sobrevivente. Porque fazias questão de ser forte. Porque te dizias forte. e de sempre forte, por o seres, a única fraqueza que te descobri está estampada na mancha que trazes escondida.

Na verdade. E agora? E ontem? De hoje. Ouvem-se as cordas do piano. Negras. Cheiros podres e esquecidos. Marcas da vida. Sonatas ou solidões. Marcantes. Negras. Porque o passado. Voa. Livremente. Nas asas de um pássaro evidente. Presente. Límpido o traçar. Da sua vaga de penas. E de asas. De costumes. Num só e único abandono. Na grandeza que sobrevive ao fazer-se a conta de, ainda, existir.

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