sexta-feira, 18 de junho de 2010

penumbra (ou o ocaso latente)



as horas escurecem. e essa mulher está no limite. quase não come. pouco ou nada descansa. a paciência tem dessas coisas. é impaciente. e não dá espaço nem tempo para mais nada. por vezes dirige-se até ao parapeito. senta-se e acende um cigarro. enquanto as horas escurecem mais ainda. ela fuma à pressa. as suas mãos falam igualmente apressadas. essa mulher está presa consigo mesma. afligida e preocupada. grita. e cala-se de seguida. o que ela não sabe é quando aquilo irá acabar. e nem se recorda já quando é que aquilo começou. por muito que pense. quer apenas dar a angústia por terminada. para poder enfim suspirar de alívio. enquanto as horas escurecem por completo há numa casa distante um homem que aguarda. até que ela retome o seu brilho natural. livre e espontânea. para ele não existe senão uma sombra. a tocar-lhe ao de leve. desde o ombro até às costas. rise and shine. era assim que. mas. entre tanto. inevitável. a madrugada. de tão cerrada. rise. de tão negra. and shine. com os corpos encolhidos sobre todo o seu esqueleto.


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