domingo, 7 de setembro de 2008

Post Scriptum, Organum



O nome. O meu nome que na tua voz é fatal.

No início era o nome. O meu nome depois do teu.

- Quantas vezes me chamaste em aflição?
Um dia recordo o eco das tuas palavras e noutro penso esquecer o som trazido pelos teus passos quando, no dia em que te abandonei.

Sabes? Uma vida inteira é demasiado pequena para uma mulher como tu - bebes do sangue, ou

para um homem como eu, para um tempo tão e extremamente extenso, distante que nos alonga e desfia continuamente. Repetidadamente, inexorável e irrepreensível. Sucumbo devagar e lentamente, cabisbaixo como o teu do teu silenciar.

- Quantas vezes disseste o meu nome?
- Quantas me mataste no início, ao meu nome depois do teu, por verbo, por não palavras,
ou pelo menos, ameaças e sustos de vida eterna. Em que

O meu coração, esqueci-o nesse dia. À pressa fugi para dentro daquelas quatro paredes, recordações de quem fomos e escrevi-te uma despedida.

Depois, mais tarde, sei que nunca a chegaste a receber. Não leste a primeira linha do destino e da vida nem sequer choraste sobre a minha assinatura. Confesso, o silêncio da noite em que partiste foi sempre o nosso revolvér sem balas. Um tiro no escuro, falhei. Tu escapaste. Estás viva como sempre quis. Mesmo assim eu fatal na tua boca cada vez que me pronunciaste.

No fim, depois do nome de início, o meu depois do teu, terminava assim a história:

" os teus lábios são o género de veneno mais doce e mortífero que em mim existe. Não os sinto ou deles preciso sem que eles me descubram antes de ti. Os teus beijos são o inferno em tons paraíso, fórmula química perfeita que agora, em fase terminal, não prescindo. De lembrar-te para que os feches sobre a minha memória. "

A noite carregada de nuvens, em seguida, fez-se sombra sobre o papel. Sobrenome.

O teu.

4 comentários:

Anónimo disse...

Há dias em que o tempo parece escorrer-nos por entre os dedos, igual areia fina, e nesse momento, nem que seja apenas por segundos tudo se torna mais precioso e odiável, uma simbiose amarrotada entre o sim e o não, o prazer e a dor... será apenas o tempo o encanto de tudo?

Teetee

Anónimo disse...

As tuas palavras sao como tiros certivos no sentimemnto de kem as lê...palavras sentidas k kem lê as sente=)
bjito

Ana Margarida Cinza disse...

às vezes, o tempo faz-nos relativizar a importancia de um nome...ficam os momentos, o passado, os gritos, a aflição, o prazer, o êxtase, o sofrimento...tudo permanece gravado algures, sem o medo do pestanejar apagar tanto, em tao pouco...

é bom, quando nos deparamos com um fundo negro preenchido por letras brancas, que, aos nossos olhos, fazem sentido...

gostei...*

little*thing disse...

Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo
em dicionários antigos e poeirentos
e noutros livros onde não achei o sentido
desta doce palavra de perfis ambíguos.

Dizem que azuis são as montanhas como ela,
que nela se obscurecem os amores longínquos,
e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
a nomeia num tremor de cabelos e mãos.

Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,
seu segredo se evade, sua doçura me obceca
como uma mariposa de estranho e fino corpo
sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.

Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado
desta palavra branca que se evade como um peixe?
Não... e me treme na boca seu tremor delicado...
Saudade...

Pablo Neruda, in "Crepusculário"

Fantástico Tiago! tou fã.
Bj grande