quinta-feira, 31 de julho de 2008

Intrelude


Quando se devia ter dito algo mais
as palavras fecharam-se dentro da boca
em nome do medo e do sonho desfeito
em que o silêncio pesava e rasgava
todas as frases construídas a sós
nesse retrato de solidões
nómadas que iam para lá e ainda além
numa troca emocional escondida e cega

Quando se tinha a vida e o tempo fugia
sem que se desse conta do relógio
a contas atrasar-se cada vez tanto
na direcção oposta
aos ponteiros que delicadamente
se recompunham no seu lugar
ainda que nenhum lugar
fosse capaz de suster o ímpeto
a força e a urgência
das partidas de amor inocente e
paixão ópio crente que
sugava os dias distantes às noites
próximas à manhã por acaso

Quando se envergaram armas
nessa luta desleal de paz
a memória esquecia gestos
no fenómeno quente do sono
frio no seu revés de tangente
que separava à força tudo como se
quem desaguasse por obrigação
nos choros amargos do
que não se dizia nem foi dito
ou do que não foi feito
por medo quase nem existiu

Quando o fracasso caíra
em tiras de papel pelos dedos
no quarto escuro da alma
voava uma revolta terminal
e gemidos tristes e baixos
outrora sorrir parado
em frente à lente da câmara
lenta de afectos quando
cada palavra pertencia à sua estação
de destino já traçado a
preto no branco como
vestígios pequenos de olhos abertos
aquando o silêncio haveria
de ter sido morto e enterrado

comigo
.

2 comentários:

Anónimo disse...

Como eu me revejo nestas palavras...o medo de falar e de revelar algo...k ainda n fui capaz de revelar...
Quando abro a porta para alguém entrar, vem sempre uma rajada de vento k a fecha... a casa torna-se vazia, solitária, desamparada...uma descriçao já rotulada que inclui janelas trancadas...
e assim me perco na minha própria desarrumação...
Bjito

Luis Martins disse...

Ha' quem não consiga falar porque as palavras fogem do nosso alcance .. Mas ha' qem controle essas palavras tornando a sua escrita a sua forma de vida. Controlas as palavras e transmites tudo o que te rodeia. És o melhor =D

Abraço