Assinava as suas opiniões crónicas sempre com a sua identidade.
Na caneta, trazia inúmeras reflexões que se debatiam nas profundezas, e tinham o respeito e a força de fazer suspender horas, minutos. O tempo mortal.
Eram pulsões contraídas, factos e verdades duma realidade imensa. Longa. Eram o retrato - ou o reflexo - de um homem verdadeiro, factual tanto quanto actual. Ele em si mesmo, a interrogação que se respondia e duvidava perante os pormenores mais insondáveis, cultura e conhecimento que se tornavam formas activas numa dimensão marginal. Polémica. E brilhantismo. E tamanha dedicação às Letras, à palavra.
Eram despojos duma riqueza interior que se fazia externa. Eram restos do que em muito lhe sobejava.
Muita da sua intelectualidade era um fio a dividir dois mundos. Dir-se-ia no
horizonte.
horizonte.
De seu nome, escrevia-nos
Eduardo Prado Coelho
porque a última e derradeira palavra era a dele. Porque lhe pertencia a última palavra. A que agora está condenada a sobreviver aos anos, ao esquecimento e às estações.
O esplendor da imortalidade que deixa. Digo-lhe:
Fazer-se ver e ouvir, lendo, cada linha como um caminho que nos leva dum mundo para outro, sem nos dar-mos conta de estar a pairar numa compreensão mais exacta e primordial da sobrevivência e do sentido de Humanidade. Como seres nómadas com um coração submerso no peito.
Cai uma folha antes da hora. Fica não apenas o registo da sua passagem, mas bem mais que tudo: a raiz que nos semeou na memória. Na saudade inacabada. Na última palavra.
Sem comentários:
Enviar um comentário