domingo, 9 de setembro de 2007

Mercúrio



As palavras ardiam na folha.

Uma a uma, colidiam com a ponta dos dedos
e desfaziam-se entre si numa mancha de fogo.

O sentir queimava-se nas margens.
do riso, lume.
do olhar, labareda.
do silêncio, chamas.

As palavras consumiam a tinta.

a noite intocável era uma cortina clara,
amarela e vermelha e de contornos acesos.

O poema debatia-se como podia.
à vez.

O silêncio, e o riso dos olhos
a palavra quente e um brilho de cinza.
ou
o cheiro seco da pólvora.

As palavras ardiam na folha
por dentro,
e em segundos que o tempo não contou

uma vida inteira se extinguiu por entre

rios e marés
que lentamente arrastavam pequenos pedaços brancos,

de cartas que nunca foram lidas
e poemas que nunca foram escritos.

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