segunda-feira, 7 de junho de 2010

acaso (ou consequência)



havia sempre aquele lugar. ela galgando passos como se corresse. ele abrandando o corpo à sua passagem e já quase parado. todos os dias era assim. ela na sua pressa habitual em que desaparecia. ele sujeito ao esvoaçar dos cabelos dela onde durante breves segundos não existia outro tempo nenhum. nunca antes lhe vira o rosto. os olhos a boca ou o sinal que ela tinha na testa. apenas lhe conhecia o cabelo voando ante si mesmo. sem que ela o soubesse ele gostava desse ritual. mas houve uma vez em que ela não apareceu. ele pensou se teria chegado atrasado ou se seria ela a ter-se demorado. por todos os motivos ou sem razão alguma. esperou contando pelos dedos a incógnita. e por um momento sentiu-se desesperado. como se nada batesse certo. nem ele a poderia procurar. nem ela saberia que ele a queria encontrar. passaram-se umas semanas sem que ele tivesse mais ido à aquele lugar. reinventou caminhos mas mesmo assim pensava nela. era na falta dos seus cabelos que sentia a falta dela também. talvez hajam na vida miragens irrepetíveis. sonhava alto. e todas as manhãs ele desejava voltar a pisar o chão onde ela costumava passar rápida mas admiravelmente. uma certa manhã ele seguia na ausência dela. cabisbaixo. adiante um alarido. então deu conta de um conjunto de pessoas fazendo uma agitada roda. aproximou-se. e viu-a caída. ela torcera o pé e perdera os sentidos. alguém contou. à ida ou à chegada ninguém sabia. como que esquecendo-se de tudo o resto ele aproximou-se um pouco mais. quando ficou perto o suficiente ela começou a abrir os olhos. reconheceu-o à primeira vista e não disse nada. ele levantou-a devagar. também sem palavras. porque é perante o lado bom das pequenas coisas que está a maior beleza que as tornam únicas. o destino é para quem acredita. assim. deram as mãos perante o espanto dos presentes. e partiram passo a passo.



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