Ao final da tarde
voltei aquele jardim
melancólico e vazio
tanto quanto o chão
jazigo de beatas e
lumes de estrelas fugidias
marcas de quem
tenha estado como
eu na vez de
fumando da vida
o que ela repõe
minucioso tempo
que passa veloz
onde existe queixo
nariz testa e boca
fenómeno de rugas
no avançar da idade
sem promessas já
que foi sempre assim
enquanto a terra gira
ao contrario e uma gaivota
vinda de longe denuncia o
principio nocturno instante
talvez seja tarde para ter sabido
ou cedo para ainda poder saber
apagar
esse rasgo absurdo real
de não parecer verdadeiro
desaparecer sem paradeiro
este lago onde ninguém repara
este quarteto onde ninguém amou
aquele corda que ninguém desfez
as mesas onde ninguém se senta
jardim de sombras
com as suas mascaras
contornos incomensuráveis
caindo para dentro disformes
mostrando apenas o melhor
que dói em cada humilde rosto
e tudo o que alguém não diz
é nada do que eu consiga escrever
utopia de regressadas cinzas
antevendo o ritual com que
não me despeço não antes de
beber do luar a impossibilidade
de me ir embora com os pés
ao encontro do fim
sem mais nem menos
«de olhos fechados
muito mais que nu
friamente crua a
lentidão com que
progride o peito
ao bater violentamente
a brisa aqui muito mais
longe muito mais perto
de olhos fechados
fechando o olhar»
Sem comentários:
Enviar um comentário