quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Poema I


Manhã submersa,
Perdido de ti que me revejo.

Espasmos de tristeza que são
os lugares em que não estás
- onde habitas?
senão no coração, ao vento
soprando a dor sob a porta.

Nos primeiros raios do dia,
entorna-se o destino naufragado
na brevidade do mundo
- na palavra frágil que escapa à deriva.

Manhã emersa,
que origina a promessa e o carvão
dos pensamentos atravessando a fronteira
daquilo que a memória me recorda:

Convences-me sempre.
Mas não me vences, ainda perdido.

Há tão pouco tempo para gostar de ti.
Para me gastar em ti.
Para ti todo o meu tempo restante.

Como se a vida fosse a fibra que puxo
sem forças já – neste instante
convencido de que na pétala do silêncio
hás-de nascer secretamente, tu
alvorada humildemente escura,
por do sol, de volta.

Absorto
[ acaso o sono tivesse abrandado a vontade

Não me esqueço de ti.
E sou quem há-de deixar a vida primeiro
menino e ingénuo, novamente ]

Dolorosamente só,matinal.
Ferida sem cicatriz, incurável manhã
submersa e emergente
em tudo o que me urge:

Ao crepúsculo surges devagar.
Contra o cristal:

és a única hora do espelho em que sei que estou vivo.

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