da última vez que penteou os
seus longos cabelos, caíram-lhe umas lágrimas que tinham choro. um choro
solitário, simples. entrara na fase da vida em que a imagem de si valia muito
mais do que aquilo que pudesse dizer. «se me perguntarem porque o fiz, respondo
apenas que me apeteceu». recorda-se, como se tivesse sido hoje, do modo como as
tiras espessas e ágeis levitavam até ao chão, fazendo um pequeno monte de
vendavais vários, de um rolo de filme visto repetidamente. e se por um lado
havia a possibilidade de se contrair por dentro pelo que lhe causava,
existia-lhe na face uma sobriedade em formas de indicador sóbrio muito menos
devastador do que seria de supor. naqueles minutos os olhos ricochetearam um
antes vivido e em luto, da mesma cor que lhe apetecera arrancar. sentada,
permaneceu imóvel à medida que encurtavam as distâncias de um nó desfeito à
tesoura. com um movimento rápido e severo, as manchas escuras contrastavam com
um brilho que ao invés de nascer à pressa, teve tempo em pensamento e em sobras
e demorou toda uma estação para se mostrar. foi num sorriso rasgado que juntou
todos os fios nascente e, com eles foi porque lhe apeteceu. nos meses seguintes era, então, a mesma cara num outro rosto. rio em janeiro, mar de fevereiro, águas de março e afins. [sob um recorte desaguado e estival]